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Lirismos de Quinta – 16/06/2011

16 jun

Na última segunda-feira, 13/06, o Google lançou mais uma de suas logos comemorativas. Dessa vez, para celebrar o 123º aniversário do poeta português Fernando Pessoa. O EV! também traz sua homenagem ao nome mais memorável da língua portuguesa na poesia mundial. O estereoscópio que publicamos antes é en função do poema que escolhemos para fazer a homenagem.

Ulisses – Fernando Pessoa

(II – Os Castelos
Primeira Parte | Brasão)

O mito é o nada que é tudo.

O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo –
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.

Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.

Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.

Estereoscópio – Fernando Pessoa + Ulysses, Franz Ferdinand

16 jun

Aproveitando que hoje é a comemoração oficial do Bloomsday, feriado na Irlanda que celebra o livro de James Joyce, Ulisses. A resposta vem logo mais, nos Lirismos de Quinta!

O poeta português Fernando Pessoa

+

Ulysses, da banda escocesa Franz Ferdinand, do álbum Tonight

Semana da Poesia EV! – Domingo

27 mar

O “Poema em Linha Reta” de Fernando Pessoa, é narrado neste vídeo pelo ator Paulo Autran.

Lirismos de Quinta – 27/01/2011

27 jan

Um poema pra de Fernando Pessoa, para celebrar o clima de férias.

Liberdade – Fernando Pessoa

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer !
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa…

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D.Sebastião,
Quer venha ou não !

Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca…

Semana da MPB no EV! – Quinta-feira (07/10/10)

7 out

Nossa música é privilegiada com as mais lindas vozes. Vozes imperfeitas e muito sinceras e, por isso, lindas.

Maria Bethânia recita Poema do menino Jesus, de Fernando Pessoa e canta O doce mistério da vida, versão de Alberto Ribeiro para música de Victor Herbert e Rida Johnson Young

Gilberto Gil canta Drão, de sua autoria

Gal Costa canta Coração vagabundo, de Caetano Veloso

Caetano Veloso canta Dom de iludir, de sua autoria

 

Lirismos de Quinta – 29/04/10

29 abr

Não há o que se dizer quando um heterônimo Fernando Pessoa dá as caras por aqui:

Na Noite Terrível

Álvaro de Campos

Na noite terrível, substância natural de todas as noites,
Na noite de insônia, substância natural de todas as minhas noites,
Relembro, velando em modorra incômoda,
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.
Relembro, e uma angústia
Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo.
O irreparável do meu passado — esse é que é o cadáver!
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.
Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.
Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures,
Na ilusão do espaço e do tempo,
Na falsidade do decorrer.Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;
O que só agora vejo que deveria ter feito,
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido —
Isso é que é morto para além de todos os Deuses,
Isso — e foi afinal o melhor de mim — é que nem os Deuses fazem viver …

Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono, elaboro —
Se tudo isso tivesse sido assim,
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro
Seria insensivelmente levado a ser outro também.

Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido,
Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo;
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse;
Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas,
Claras, inevitáveis, naturais,
A conversa fechada concludentemente,
A matéria toda resolvida…
Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói.

O que falhei deveras não tem sperança nenhuma
Em sistema metafísico nenhum.
Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei,
Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.
Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos,

Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca
Como uma verdade de que não partilho,
E lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível p’ra mim.